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Entrevistas
O nosso Grão Mestre, Eng. Pedro Castro Rego e o nosso Grão Escanção, Eng. João Sardinha da Cruz, deram entrevistas, o primeiro à Revista Portugal de Sabores & Tradições, o segundo ao Jornal Correio do Ribatejo.

Revista Portugal de Sabores & Tradições
CONFRARIA ENÓFILA DO TEJO
A celebrar 17 anos, a Confraria Enófila do Tejo visa a preservação e divulgação dos Vinhos da Região do Tejo, que têm alcançado uma reputação crescente. Pedro Castro Rego, Grão-Mestre da Confraria Enófila do Tejo, revela quais as atividades planeadas e a importân­cia da promoção dos vinhos da Região do Tejo.

Quais as características que distin­guem os vinhos produzidos na Re­gião dos Vinhos do Tejo?
Os vinhos do Tejo têm conseguido uma reputação crescente e alcançam já hoje uma grande notoriedade, re­conhecida por especialistas e pelo grande público, fruto da sua diversi­dade e adaptação aos diferentes mo­mentos e hábitos de consumo. Entre os vinhos com direito a Denomina­ção de Origem e Indicação Geográ­fica, existem brancos, tintos e rosés e até outros produtos vínicos que es­tão muito bem-adaptados a qualquer momento de consumo, bem como a qualquer tipo de gastronomia e no­meadamente à gastronomia regio­nal. Podemos encontrar neles castas mais tradicionais na região e castas internacionais, vinhos com grande frescura e outros mais estruturados, permitindo sempre ao consumidor satisfazer as suas necessidades em cada ocasião.
A Confraria Enófila do Tejo foi cria­da em 2000. O que esteve na origem da sua criação?
Existia na ocasião e mantem-se atualmente a perceção de que exis­te todo um trabalho de divulgação e promoção dos vinhos e produtos vínicos que deve ser feito em ligação à cultura, história, tradições e com especial destaque para a ligação com a gastronomia regional. Este trabalho, tal como foi considerado na altura, poderia ajudar a poten­ciar todas as outras iniciativas exis­
 tentes na região, pelo que foi a nossa Confraria aceite como uma entidade com papel a desempenhar na região, à semelhança do que se passa no nosso país e na Europa vitivinícola, e se começa agora a passar no mun­do globalizado.
De que forma pode ser caracterizado o traje identitário da Confraria?
Tal como foi referido acima, a Con­fraria celebra as tradições da região. Os trajes relembram e inspiram-se em algumas das vestes usadas há anos no Ribatejo em domingos e dias de festa, sendo que o próprio chapéu evoca tal ocasião. Aproveito para lembrar e prestar homenagem à Sr.ª D.ª Graciete Monteiro que tanto trabalho teve a estudar os trajes e a reunir as peças para que formassem um todo harmonioso e representa­tivo da região, e que nos deixou há pouco tempo.
Quais as principais iniciativas pro­movidas pela Confraria de forma a promover os Vinhos do Tejo?
Teremos uma grande diversidade de ações de promoção dos Vinhos do Tejo, que tentarei sintetizar. Tal como consta do Plano de Atividades aprovado, teremos sempre dois Capí­tulos Gerais por ano, podendo haver algum extraordinário. Organizare­mos em estreita colaboração com a CVRTejo, com quem nos articula­mos nas atividades de promoção de vinhos, a Gala dos Vinhos do Tejo, momento alto da região, organizan­do nesta parceria o Concurso de Vi­nhos Engarrafados do Tejo. Teremos, sob a égide da Federação das Confra­rias Báquicas, provas em Copenhaga e, eventualmente, em Munique. Ire­mos comemorar o nosso aniversário e receber grupos de visitantes nacio­nais e estrangeiros, um desses gru­pos oriundo da Confraria de Macau. Teremos de assegurar os diversos protocolos existentes e manter a li­gação a todas as entidades regionais que têm objetivos complementares aos nossos, sem esquecer que possam aparecer novas iniciativas. Isto é uma enorme tarefa para uma estrutura e meios muito reduzidos, só possível com muito trabalho de diversos Con­frades unidos por acreditarem nestas causas.
Qual a importância dos vinhos como meio de divulgação da região e de atratividade de turistas e inves­tidores?
Aqui felizmente podemos também testemunhar os passos muito signi­ficativos que têm sido dados. Existe hoje uma perceção generalizada e crescente de que o vinho vale muito pelo seu valor económico, mas tam­bém pela valorização do turismo, do espaço rural em que as vinhas se in­serem, pelo ambiente e pela história e cultura associadas. Ora estes são precisamente os valores pelos quais se bate a nossa Confraria, pelo que encaramos este reconhecimento de forma muito positiva e considera­mos que reforçar a visibilidade, a notoriedade e prestígio dos vinhos e da região, numa perspetiva de médio e longo prazo, é a nossa tarefa que desenvolvemos com espírito confrá­dico e gosto
 
Jornal Correio do Ribatejo.
Qualquer enólogo terá como desejo produzir o melhor vinho do mundo" João Sardinha Cruz, distinguido este ano com o Prémio Carreira pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, é um dos mais conceituados enólogos da região: foi Provador das CVR' s Cartaxo, Ribatejo e Tejo durante 25 anos, dos quais dez como chefe da Câmara de Provadores. Para o Engenheiro Técnico Agrário, o Ribatejo possui actualmente produtos vínicos "de altíssima qualidade", sendo em Portugal "a região que mais evoluiu qualitativamente nos últimos anos, mercê das exigências de mercado, da consciencialização dos vitivinicultores e do aparecimento de novos enólogos cheios de criatividade.
 
Alguma vez nos últimos anos foi capaz de beber um vinho sem vestir o papel de técnico, de enólogo?
No meu caso, eu acho que com a idade passamos por diversas fases: antes de começar a trabalhar na área, bebemos qualquer coisa, sem olhar a quê, e quando entramos na profissão, à medida que o tempo vai passando começamos a ter curiosidade e tentamos educar as nossas sensações, provando muito, indo a provas de vinho, trocando impressões com colegas, comprando todas as revistas da área. Quando começamos a ter mais alguma idade preocupamo-nos mais com o prazer que determinado vinho nos dá, sem ter a preocupação da identificação de aromas ou sabores, dependendo tudo isto da temperatura de consumo e da iguaria que acompanha o vinho.
Onde está então para si o prazer de beber vinho?
O prazer de beber reside nas sensações que o vinho nos transmite e que deverão ser agradáveis, quer à vista, ao olfacto ou ao gosto. Depois há também a ter em consideração o gosto pessoal de cada consumidor, a região em que o consumidor habita, e a proveniência do vinho, voltando a dizer que a adequada temperatura de consumo e a ligação à iguaria são determinantes na obtenção do prazer de beber.
Num tinto, por exemplo, quais são os aromas que fazem um vinho bom?
Num vinho tinto ou branco temos que começar pela ausência de aromas de defeito, como o suor de cavalo, o tricloroanisol (rolha), ovos podres, e outros. Quanto aos aromas que consideramos de qualidade num vinho tinto eles são bastante diversos: sejam os que sugerem frutos vermelhos, especiarias, alguns produtos hortícolas, como o pimento, que provêm muitas vezes das castas utilizadas e do tipo de fermentação, ou os aromas de madeira, no caso de vinhos estagiados em barricas, cujas características variam conforme a sua origem, tempo de secagem ou queima (tosta). Em todos estes casos também é importante a intensidade presente de cada tipo de aroma, sendo no caso de vinhos estagiados em barricas dependente do tempo de contacto do vinho com a madeira, e que varia com o gosto dos consumidores – há consumidores que não gostam de aromas de madeira e preferem os aromas frutados. No fundo é de certa forma urna questão de moda.
Consegue definir um perfil de vinhos que seja mais ao seu gosto?
Com pratos mais ligeiros, brancos ligeiros, com bacalhau, peixes de forno, ou queijos, brancos mais encorpados e com alguma idade ou tintos pouco encorpados mas com alguma acidez natural. Quanto aos tintos, prefiro um misto de fruta com alguma madeira, mas também com um certo corpo.
Quais são as suas castas de eleição e porquê?
As minhas castas de eleição são o Fernão Pires, o Arinto e o Alvarinho, e nos tintos a Touriga Nacional, a Merlot, e a Trincadeira proveniente de vinhas velhas. São na sua maioria castas nacionais, que combinam bem umas com as outras, e que dão origem a vinhos equilibrados.
Consegue fazer um vinho que não goste?
Quando assumimos a enologia de qualquer empresa tentamos sempre fazer o melhor. Qualquer enólogo terá como desejo produzir o melhor vinho do mundo. No entanto nem sempre conseguimos produzir produtos de excelência, e que sejam vendáveis. Existem imponderáveis que surgem, felizmente com pouca frequência, e que não nos permitem atingir os objectivos a que nos propomos, muitas vezes sem qualquer razão aparente.
O que é um vinho fácil?
Um vinho fácil é aquele que não dá muito que pensar, mas que é agradável em qualquer situação. A região do Ribatejo tem vinho de qualidade ou é mais uma região da quantidade? A região do Ribatejo é hoje uma região de produtos vínicos de altíssima qualidade, como os prémios auferidos em concursos nacionais e internacionais atestam, e que tem vindo a reconverter-se ao longo dos últimos anos, sendo talvez em Portugal a região que mais evoluiu qualitativamente nos últimos anos, mercê das exigências de mercado, da consciencialização dos vitivinicultores, do aparecimento de novos enólogos cheios de criatividade, e também do papel desempenhado pela CVR TEJO, em especial no que diz respeito à promoção, quer nacional quer internacional, dos nossos vinhos. No que diz respeito à quantidade, antagonista da quantidade, ela é hoje regulamentada no sentido de limitar as produções, quer de vinhos regionais quer de vinhos DOC.
Uma boa combinação vinho/música?
Vinho / música: DESALMADO tinto 2012 - Adega Cooperativa do Cartaxo /Stairway to Heaven - Led Zeppelin.
Uma boa combinação vinho/prato?
Vinho / prato: Cardeal Dom Guilherme Reserva 2015 - Adega Cooperativa de Alcanhões / Grão com mão de vaca.
Lema de vida?
Viver bem.
Se pudesse alterar algum facto da História de Portugal qual alteraria?
Devemos deixar a História seguir o seu rumo, no entanto penso que qualquer Guerra não deveria ter existido, nem Donald Trump deveria ser presidente dos EUA.
Um título para o livro da sua vida?
"A História Repete-se':
Livro?
"A guerra que Portugal quis esquecer" - O desastre do exército português em Moçambique na Primeira Guerra Mundial, de Manuel Carvalho.
 Viagem?
América do Sul